![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEivbPJc7jUO0H57ur1ZupfrgYUot4QDRAGGqhkG_4pxPGN36ou8dCIB2D7vlevig8NVEH74zYnCEvDXrJPlZ03Brt8nHaDinFNc4yDXEjLAw_qyD8RbZS-FT2wpaE2rf3qbY5345SmtW7_r/s400/amalia+escultura.jpg)
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgTUzeJuo1R8mI1a6Ji2KETCJ-L4MDRlhJjNe-iRrUSAn-k2lfSmXtP3euyjc1FDPt7G-wB1IJQVRmblVif08lip54mObDya93fov1SF2Hj2VFwsiOJEIW1JHLXY9HwfDALOXoVU_McZ2Wl/s400/Amalia-+Fernando+Carlos+Lopes.jpg)
Fez, por estes dias, já nove anos que, mal chegado e refeito das férias, acordei uma manhã com as televisões a darem a notícia da morte da Amália.
Sempre ouvi, em casa, falar da Amália, contar que ia lá para a Avenida à noite, depois do jantar, com o Valério ou o Ferrão ao piano e o meu Avô no papel, experimentar e ensaiar fados até às tantas.
O meu Avô José Galhardo, na minha mais do que suspeita opinião, escreveu para a Amália os poemas / fados mais marcantes que ela cantou, como "Confesso", "Não sei porque te foste embora", "Ai Mouraria", "Lisboa antiga", "Amália", "Coimbra", "Lisboa não sejas francesa", "Malhoa", "Severa" e alguns outros.
Eu ouvi a Amália ao vivo duas vezes, a primeira nos finais dos idos de 80, em Roma, nas Termas de Caracala, e a segunda na intimidade da 'Adega Machado', onde pude beijá-la e falar com ela, e até receber uma simpática dedicatória numa fotografia.
Sei que a sua voz já tinha tido dias melhores, mas das duas vezes o que realmente me impressionou foi o vulto da figura, que é o que permanece até hoje.
A Amália levantava a cabeça ligeiramente para trás, abria a boca e tudo o resto era indiferente.
Nem me conseguia concentrar no poema ou na melodia, porque a mensageira eclipsava a mensagem. Por isso sempre achei aceitável que intercalasse o "Peron Pompero" com o "Avril au Portugal", pois as Termas de Caracala vinham abaixo de qualquer maneira!
A Amália tinha, em tudo, muita raça, que era indisfarçável e que ela intuiu, pois ninguém lha ensinou e a sua origem não lha consentia: no falar, no gesticular, no gosto, na roupa, nas jóias, na postura, no olhar, na fisionomia, nas relações, nas prioridades, nos temas e opiniões, enfim, na vida!
Estava de igual para igual com os grandes, sem no entanto se renegar ou deixar de se cumprir como pessoa.
Julgo que era um dom ou uma dádiva, e era esse o principal motivo de orgulho para o povo, que tinha, com toda a razão, muita cagança naquela Embaixadora.
Penso que a vida se lhe tinha tornado insuportável, e que quis partir.
Sem presunções e ninguém a quem o dizer, ela sabia que era maior que a vida.
Acredito que se deve ter sentido muito só!
Deixou-nos, seguramente, a nós, enquanto povo, mais sós, mais órfãos...
* Carvão de Fernando Carlos Lopes
Sem comentários:
Enviar um comentário